A Francomaçonaria e os Milenials

Uma pesquisa realizada pela UGLE no último ano na Inglaterra e EUA, mostrou que homens abaixo de 30 anos representam apenas 2% da população de maçons nesses países. Um número tão pequeno pode parecer negligenciável, exceto que se você se der conta que eles são estão na única faixa etária em que os números absolutos estão crescendo.

A participação para pessoas abaixo de trinta anos está crescendo 7,65% anualmente. Em contraste com isso, podemos observar que os maçons quarentões estão diminuindo quase 10% anualmente, cinquentões 7%, e 9% para o sexagenários.

Mesmo se nós soubéssemos o que o futuro da maçonaria nos reserva, ainda assim não poderíamos deixar de prestar atenção nos irmãos “Millenials”, aqueles que hoje tem vinte ou trinta e pouco anos. O que foi exatamente que caiu no gosto dessa geração a respeito da Maçonaria? O que os tem atraído em nossa fraternidade?

A grande Loja Unida da Inglaterra contratou alguns especialistas para produzir um extenso estudo que foi chamado de “the Future of Fremasonry”, no sentido de obter dados para serem apresentados nos eventos de comemoração dos 300 anos.

Esse estudo mostrou que os jovens maçons (aqueles nascidos depois de 1982) apresentam  características marcantes esperadas no grupo social que se convencionou chamar de geração “Millenials”.

Essa geração foi assim “batizada” primeiro pelos pesquisadores William Strauss e Neil Howe dos EUA, para indicar um solavanco demográfico ocorrido nos anos 80. Aqueles que eram crianças do pós-guerra, quando se tornaram pais e avós da geração “baby boomers” criaram em seus descendentes a expectativa de grandes quantidades de filhos. A geração resultante desse solavanco demográfico chegou à idade adulta por volta do ano 2000 e por isso batizados de Millenials.

Se eles estão se iniciando na maçonaria, aparentemente não é apenas para se tornarem apenas mais uma pedra no edifício do estabilishment.

De acordo com o estudo “British Social Attitudes survey”, os Millenials são muito menos atraídos que seus pais e avós se juntar a movimentos sociais. Não costumam se associar a partidos políticos, não costumam participar intensamente de nenhuma denominação religiosa, não se inscrevem em sindicatos, e em geral não tem o serviço militar em alta conta.

Eles são bastante individualistas. Nas pesquisas qualitativas mostrou que comparado com seus pais, eles são muito mais inclinados a considerar a confrontação dos problemas sociais uma responsabilidade dos indivíduos ao invés do estado.

Os Millenials ingleses aparentam serem bem mais relaxados em relação a costumes sociais, tais como consumo de drogas leves e casamento do mesmo sexo, porém apresentaram também uma tendência muito maior de empreenderem em seus próprios negócios. Parte disso pode ser atribuído ao atual estado do ensino superior nos países de língua inglesa, onde a porcentagem da população que chega a universidade é maior que em outros países e onde o ambiente estudantil superior faz do liberalismo de costumes a regra e não a exceção. Mas também é nesses países onde se vê um mercado trabalhista mais flexível, competitivo e dinâmico, o que pode explicar o individualismo, competitividade, e a preocupação exacerbada com aparências e redes sociais.

O mundo da geração Millenial é digital, com 41% admitindo que preferem se comunicar digitalmente do que em pessoa ou por telefone. A afinidade dessa geração com o mundo digital define o que eles esperam das empresas e organizações. Eles esperam agilidade, variedade e flexibilidade. Experiências interessantes e envolventes, feedback rápido e constante, e a possibilidade de constante aprendizado. Sentem desconforto com estruturas organizacionais inflexíveis. Seus ambientes paradigmáticos de trabalho seriam o Google ou a Apple, ou ainda melhor, alguma Start-Up de alta tecnologia.

Eles valorizam mentores das gerações anteriores, mas frequentemente se envolvem em conflitos geracionais – 38% afirmaram que no seu local de trabalho a gerência sênior não se relaciona com eles, e 3% dizem sentir que as suas visões pessoais parecem intimidar as gerações mais velhas. 50% dizem acreditar que quase nunca os seus gerentes entendem a forma como estão trabalhando com as ferramentas tecnológicas.

Essa geração especialmente não gosta de se juntar a instituições, mas eles estão se juntando à Franco-maçondaria. Porque? Sem dúvida, o profundo engajamento pessoal com o desenvolvimento da moral encorajado pela fraternidade é um ponto. Que o ritual esteja ali, obviamente evocativo, mas deixando para a intimidade de cada um a forma de interpretar tudo aquilo e especialmente de como aplicar à sua vida pessoal, parece ter um forte apelo aos Millenials que rejeitam imposições autoritárias sobre como pensar ou levar a sua vida.

O fato da Maçonaria excluir do seu espaço as discussões religiosas e políticas, parece também sintonizar o descrédito que os Millenials tem por esses discursso.

Algumas instituições maçonicas criadas pelos Milleniasl já estão surgindo e se fazendo notar, tais como a Maçonaria Universitária (já comum nos EUA) que caiu no gosto daqueles estudantes que viam suas instituições na rota da destruição gratuita de tradições escolares e da consequente vulgarização do “pertencer” ao corpo de estudantes dali.

A Maçonaria Universitária já se mostra com suas próprias características, tais como iniciações múltiplas, e as vezes mais de uma cerimônia em uma mesma sessão, no sentido de permitir os alunos  a conhecerem a maior espectro possível da maçonaria antes de deixarem a universidade (o que frequentemente implica em mudança de residência).

Apesar dos nossos números parecerem estarem felizmente se estabilizando, a longa diminuição que observamos desde a década de 80 implicou em termos um excesso de lojas (e capítulos) com poucos membros cada. Muitas lojas originadas no século vinte estão abatendo colunas e seus membros estão se concentrando em poucas lojas com maior número de frequentadores, o que é essencial para a saúde da loja e aumento do entusiasmo dos irmãos.

E esse forte “entusiasmo de grupo”, e o sentimento de pertencer a uma instituição que manteve tradições de mais de 300 anos sem desgastar sua reputação, acredito ser o que mais atrai os Millenials, que se ressentem da vulgarização e do desgaste das demais alternativas de grupos sociais.

Outra tendência a ser estimulada é o emprego das instalações maçônicas subutilizadas para outros propósitos, tais como para grupos de estudo, para realização de sessões de novos graus filosóficos, festivais e eventos benemerentes abertos ao público, etc.

O relatório “the Future of Fremasonry” da UGLE conclui que mesmo com as mais avançadas tecnologias de comunicação disponíveis do século XXI, a nossa necessidade de comunicação e auto identificação por símbolos continua evidente como sempre foi.

A Maçonaria está recebendo uma geração que não se mostra importar com hierarquia, que não se importa nem um pouco com a gourmetização dos copos dágua, mas que leva muito a sério a orientação moral mas de forma independente de religiões e políticas, e que se interessa em formas criativas e empreendedoras de praticar benemerência na vida real.

Portanto, só nos resta apoiarmos com entusiasmos as novas ideias e propostas que estão chegando com eles.

Gil A. Leça Pereira
São Paulo 04 de Dezembro 2017

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