O Bem, o Mal e a Ética do Maçom

Qual é a motivação que leva as pessoas a fazer o Bem? Li a algum tempo uma manchete de um jornal que dava destaque a um fato ocorrido em Nova York: Um policial fazendo sua ronda noturna encontrou um saco com 32000 dolares de lavagem de dinheiro de drogas, e surpreendentemente entregou tudo como prova! Os repórteres davam grande destaque à sua honestidade e na entrevista ele explicou que havia pensado em ficar com o dinheiro, mas deu-se conta de que sua aposentadoria valia muito mais.

Uma notícia perfeitamente normal mas com alguma coisa que me incomodou a ponto de me fazer parar para pensar. Depois de ter descoberto o que me incomodava nessa estoria, me supreendi com o fato de que nenhum dos jornalistas ou editores terem percebido os dois aspectos éticos implícitos nessa história.

Primeiro, no destaque dado a essa manchetes pelos jornalistas, deriva-se que os jornalistas e editores acreditam que eles e o público em geral consideram excepcional o fato de um policial fazer algo honesto por sua própria iniciativa (sem ser coagido a isso). Por sua vez isso denota um problema de expectativa a respeito da moral dos agentes da lei.

Em segundo lugar, na entrevista do policial, ele afirma tacitamente que se o valor envolvido fosse maior que a sua aposentadoria, ele teria ficado com o dinheiro. Ou seja, a virtude pela qual ele deveria ser homenageado certamente não seria a integridade, mas talvez a franqueza…

O M. tem de ser o primeiro a saber que fazer a coisa certa pelo motivo errado não torna uma pessoa íntegra. Para o M. a virtude da integridade envolve uma lealdade irrestrita a princípios, e não ser apenas um cálculo frio das vantagens a serem obtidas com cada opção.

A moral que estava sendo usada pelo policial e aplaudida pelos jornalistas é algo como “Obedeça a lei enquanto isso for mais vantajoso do que desvantajoso”. E no frigir dos ovos essa é a história de um policial desonesto cujo preço não foi alcançado. É isso que queremos mostrar como exemplo para nossos filhos?

Apesar da maioria dos editores e leitores não terem sido capazes de detectar essas distorções morais, espera-se que o aprendizado do M. em loja seja orientado no sentido de exacerbar a sua sensibilidade moral, o seu senso crítico e especialmente um extrito senso de Integridade.

O M. deve estudar no sentido de construir o seu próprio sistema ético, muito mais estruturado e sofisticado do que os pobres padrões que temos observado na vida profana. O M. tem que ser capaz de não só agir de forma ética mas também de responder de forma segura quando for perguntado sobre “porque você fez isso?”.

A maioria das pessoas fazem referências frequentes à moral e a ética em suas conversas, usando essas palavras quase sempre de forma redundante. Se perguntar sobre a diferença entre as duas palavras poucos serão capazes de responder de forma segura. Para o M. essa é uma distinção fundamental, e tão importante quanto à distinção entre moral e lei.

O filósofo grego Aristóteles foi o primeiro estudioso da Ética em seu trabalho Nicomachean Ethic. Ele esclareceu que as leis formam o conjunto mais básico de regras à disposição de uma sociedade. Ela fornece diretrizes a serem seguidas nas situações mais comuns e são relativamente estáveis com o passar do tempo ou em diferentes lugares. As leis determinam o que é legal e o que é ilegal de se fazer, mas muitas vezes não cobrem varias situações específicas. É aí que entra a moral.

A moral, por sua vez, é um conjunto de regras mais abrangente e mais abstrato do que as leis. Ela determina para uma sociedade quais atos são morais ou imorais. Pode variar com o tempo e varia bastante de um grupo social para outro. A origem da moral de um grupo social dá-se nos costumes locais, na cultura religiosa, ou no inconciente coletivo conhecido tambem como senso-comum.

A Ética é ainda mais abstrata do que a moral, e procura fornecer elementos filosóficos para que cada um possa decidir por si mesmo se determinada ação é boa ou má. Em geral, as pessoas são levadas à reflexão ética nas raras situações em que as leis ou a moral vigente falham. Por falha quero dizer que não são capazes de oferecer respostas claras sobre o que fazer naquela situação. As pessoas recorrem à ética de forma instintiva nesses casos, mas por falta de preparação com resultados nem sempre adequados. Distinguir o Bom do Ruim nem sempre é fácil. Distinguir o Bem do Mal é ainda muito mais difícil. Não existem generalizações possíveis. Mesmo Sócrates, quando perguntado por Platão sobre a definição generica do bem, acabou por desistir dizendo “Receio que esteja além do meu poder” (A Republica)

Mas para a nossa sorte, centenas de sábios além de Platão pensaram muito sobre esse assunto. Herdamos um valioso legado de filósofos que remontam desde a china antiga, na foma de idéias, insights e metodologias para nos ajudar a resolver problemas éticos. E o grande valor desse ramo do conhecimento é poder aliviar as angústias decorrentes da inevitalidade dos dilemas pessoais de cada um, e um colateral aumento da capacidade de compreender a si mesmo e ao resto do mundo.

Para aperfeiçoar o seu ferramental etico, o M. deve buscar por insights relevantes em pelo menos uma das diversas fontes amplamente disponiveis de sabedoria. A fonte mais comuns de insights filosóficos são a teologia – estudo dos textos sagrados das diversas religioes – no nosso caso em especial os textos bíblicos do antigo e o novo testamento,

Outra fonte é a ciência – especialmente o método científico – e todos os tratados sobre a natureza, que nos ajudam em especial a entender as motivações biológicas e os ciclos a que toda a vida está sujeita.

Por fim devemos citar às obras dos grandes autores clássicos e modernos da filosofia, tais como Aristóteles, Budha, Confucio, Epicuru, Hilel, Hobbes, Lao Tse, Jonh Newman, Nietzsche, Platão, Sartre, Socrates, e outros. Não se espera do M. que se torne um Phd em Filosofia Alemã, mas graças à tecnologias tais como a Internet facilitando o acesso ao conhecimento de uma forma nunca antes tão próxima, é possível buscar apenas o que já foi trabalhado no assunto em questão por todos os renomados filósofos. Se você gostar especialmente dos insights de determinado autor… daí então vlha a pena ler a obra completa.

Sabemos que ser M. é fazer uso de um sistema peculiar de moral, que estimula a prática das virtudes com a consequente promoção do bem comum. O problema é que nem sempre é fácil distinguir o bem do mal. Existem muitos dilemas possíveis, mesmo quando se trata de fazer caridade ou ajudar ao próximo. Exemplos simplistas de tais dilemas são fáceis de citar, tal como dar ou não dinheiro para crianças no farol, participar ou não de uma passeata pelo fim dos testes de remédios em animais. Situações como essas obrigam a uma escolha que não é simples porque não estão descritas em leis, nem fazem parte da nossa bagagem moral. A escolha depende exclusivamente de uma análise ética pessoal de cada um. Um sábio conta com uma bagagem de insights filosóficos que o ajudam rapidamente a decidir por uma anternativa. O Tolo fica sofrendo com a angústia da protelação ou com a perpétua insegurança de contar com a sorte.

Por isso, com o objetivo de melhor ajudar-se e aos seus irmãos, o M. deve aproveitar a sua jornada para construir a sua bagagem ética com muito estudo, exercício prático das virtudes e convivência em loja. Nesta construção a pedra mais importante, a primeira a ser polida e colocada no alicerce do canto nordeste, tem de ser trabalhada do seu estado bruto com uma ferramenta especial: a Filosofia da Ética.

Qual é a relação entre o Bem e o Mal ou a Ética e as Ferramentas de Trabalho

A régua nos ajuda a ser equilibrados entre os extremos aparentemente opostos, evitando pré-julgamentos simplistas que levam a grandes injustiças. Durante o processo de reflexão ética, nos ajuda a lembrar que podem existir muitas possibilidades entre as alternativas que julgamos possíveis.

O maço é a força de vontade necessária para se manter íntegro e fazer o certo porque é certo, evitando os caminhos fáceis ou as auto-justificativas para as falhas de caráter.

O cinzel é a educação e a cultura que permite que sejamos capazes de usar a sabedoria acumulada de outros para ajudar a julgar melhor as situações onde não exista um caminho claro ditado pelas leis ou pela moral vigente.

O cinzel quando está bem afiado é facilita o maçom a descobrir que a forma que aprendeu a cortar a pedra bruta nem sempre é necessáriamente a que descobrirá a melhor pedra polida. Por outro lado a régua o ajudará a lembrar que se cortar diferentemente dos outros irmãos, suas pedras não poderão ser aproveitadas ou pior deixarão o templo frágil. Por outro lado, se usar o maço da sua força de vontade para demonstrar o que descobriu para seus irmãos e convence-los de que pode existir forma melhor de trabalhar pode ser que traga grande benefício para todos.

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